Prestes há completar 80 anos, filme de Fritz Lang ainda influência os cineastas que fazem ficção científica.
Criar Robôs que tenham capacidade de gerar emoções humanas é um tema recorrente no cinema. Desde as tramas puramente comerciais como é o caso do meio homem, meio máquina Robocop à tentativas mais elaboradas como no caso de O homem bi-centenário, dirigido por Chris Columbus onde um robô comprado para ajudar nas tarefas da casa começa a ganhar traços de personalidade humana; ou também no caso mais recente que é o Inteligência Artificial, do badalado diretor Steven Spilberg. A idéia central que permeia nesses três filmes de ficção científica encontra o que poderíamos chamar de sua "paternidade cinematográfica" no filme Metrópolis, que estará fazendo 80 anos em 2007.
Considerado por muitos como a primeira ficção científica audiovisual, este filme representa também o début da figura do robô na história do cinema. Esta é a grande obra-prima do diretor austríaco Fritz Lang, um dos célebres representantes do expressionismo alemão. A versão original, lançada em 1927, permaneceu em exibição durante uma única semana em solo germânico e depois foi severamente retalhada por distribuidoras alemãs e americanas. O motivo para isso foram 153 minutos de duração que foram considerados responsáveis pelo fracasso de bilheteira. 25% da obra está perdida para a eternidade, impossibilitando a montagem do filme tal qual foi exibida naquela época. A versão mais completa de todas, restaurada digitalmente, foi lançada no Brasil em 2003 pela Kino Internacional.
O que impressiona a muitos cinéfilos é o fato da concepção da cidade ainda inspirar muitos cineastas atuais. Ridley Scott, Ingmar Bergman, Stanley Kubrick, George Lucas, Steven Spielberg, e outros tantos realizadores encontram-se em dívida para Fritz Lang. Visionar Metropolis significa depararmo-nos com fantasmas do futuro: o cientista louco (Dr. Rotwang) é evocado por Kubrick em Dr. Strangelove (interpretado por Peter Sellers); o elemento temático ilustra o fosso entre a classe operária e as hierarquias superiores pode ser encontrado em múltiplos filmes, desde Tempos Modernos, de Charles Chaplin, a O Grande Salto, dos irmãos Coen. Os arranha-céus e carros voadores de O Quinto Elemento e o também Spilberguiano Minority Report são muito parecidas com a do filme alemão, se considerarmos as limitações técnicas para fazê-las.
Mas, para além dos cenários, existe a mensagem que o filme quer passar. O mundo de Metropolis é frio, mecânico e industrial. A descrição reflete o imaginário característico da época, quando a Revolução Industrial já atingira seu ápice e o sistema econômico de produção capitalista começava a dar sinais evidentes de desgaste, o que levava a um certo pessimismo quanto ao futuro. E o futuro de Fritz Lang, ainda que apresente traços de ambigüidade, traça um prognóstico nefasto do que aconteceria aos grandes centros urbanos caso o industrialismo seguisse um caminho desenfreado e inconseqüentemente manipulador. A desumanização do trabalhador, a formação de hordas de máquinas, massacrados pela rotina mecânica e monótona, escravizados pelo aparelho é um dos temas presentes no filme, uma preocupação que permeava o início do século e as doutrinas filosóficas, a exemplo do Marxismo.
No enredo, Freder Fredersen é o herói romântico e ingênuo que se envolve com a messiânica e idealista Maria. Em oposição a eles, que são humanos por excelência, estão John Fredersen, o tecnocrata, o mestre com um quê de nazista, aquele que se julga soberano e controlador dos homens e das máquinas; Rotwang, o homem da ciência, o inventor maravilhado e deslumbrado com as possibilidades da tecnologia, e um robô, que representa, na visão dos personagens de Fritz Lang, e no contexto social tecnológico da era industrial, o trabalhador "ideal", por mais paradoxal que essa definição possa parecer.
Tratar o enredo desta forma foi genial e inovador para a sua época, mas certamente não se pode compartilhar do mesmo ponto de vista de Lang nos dias atuais. Na mais recente realização sobre este tema, Steven Spielberg - homenageando seu amigo Stanley Kubric que tinha o desejo de levar para as telas o filme baseado no romance Superbrinquedos Duram o Verão Todo escrito por Brian Ailess - se utiliza da fábula do boneco de madeira Pinóquio que deseja se tornar um menino de verdade, para contar a história de um menino robô que quer se tornar humano para conquistar o amor de sua "mãe" adotiva em inteligência artificial. Aqui, o sonho futurístico planeja uma realidade em que, por decorrência das catástrofes naturais (o degelo das calotas polares ocasionado pelo efeito estufa) onde máquinas são criadas para atender as necessidades afetivas do ser humano como ter filhos e amantes. Se para Fritz Lang, a mensagem é que no passo que o mundo num futuro desolador dominado pelas máquinas, podendo só o amor de Freder e Maria poderia salvar a humanidade; Spilberg consegue demonstrar unindo ficção e comportamento humano em doses certas, falar de como o amor de verdade é infinito.
p.s: reportagem para a disciplina "Jornalismo Cultural". Tirei 10 ? haha
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