4/06/2007

Última Lembrança Para Os Olhos de Azeviche

Agora eu tenho novos olhos. Na verdade, eu sempre os tive. Esses olhos de mim mesmo que um dia a terra há de comer. Que enxerga grandes distâncias, mas poucos interiores. Só que antes, eu me recusava ver através deles. Porque assim como todo mundo, eu gosto de me ver pelo olhar do desejo de um outro. No caso, os olhos de azeviche que não tenho mais. E todavia, já nem quero ter.

E aquele olhar cor de petróleo, pelo qual eu queria me ver através, era obscuro. Note que não é a cor escura que o torna difuso. Pois o preto é, em várias ocasiões, resplandescente. Pois quantas noites os casais se olharam refletidos nas águas de um lago escuro? E tantas outras vezes nos observamos pela imagem revelada pelos vidros fumês das lojas e ajeitando nossos cabelos achando que não há outra pessoa do lado de lá? Por quantos olhos negros você já se viu refletido?

Só que os olhos de azeviche, certo dia, não teve mais olhos pra mim. Cansou de me assanhar as tardes. Sua lingua resolveu revelar outras linguagens. E tudo isso não combina mais com a melancolia dos antigos. É tudo normal e moderno. Até eu, bastante antiquado cá pra nós, sei disso. Mas, invariavelmente, aqueles olhos cor de petróleo, se mostravam preocupado e atencioso, afim de que eu me demorasse mais ali por minha própria vontade de resgatá-los, quando deveria ter ido embora deveras tempo. Naquela generosidade de quem quer, na verdade, é te foder sem que você perceba.

Não há prazer maior do que ver pelos meus próprios olhos. Já foi desfeita toda aquela confunsão turva que você construiu em meu olhar, olhos de azeviche. Já não precisa mais pedir para eu ir, muito menos pedir para ficar. No seu tempo, estarei intacto como uma estátua numa praça que não responde, não se lembra o nome, nem se envelhece. No meu tempo, os meus próprios passos já me guiaram para outras realidades. Cada uma mais instigante e reveladora do que a outra.

Espero que você esteja bem refletido naqueles olhos claros. Na verdade, nem sei bem se espero mais alguma coisa de você. E só estou escrevendo este texto, porque tudo precisa ter um fim. E eu parei de escrever sobre você.

FIM.

2 comentários:

sulamita disse...

Tava relendo "30 minutes on a dance floor" antes de engatar nos lamentos sobre os olhos de azeviche.
Tava com saudade disso aqui. E saudade de vc, tolinho.
Eu queria colo agora, com um filminho nos esperando, lanche leve, conversar trivialidades para o tempo passar!

sulamita disse...

E nem pense em abandonar isso às moscas!Vamos brincar de atualizar!